Praia

Depois de dois meses em digressão pelas cidades do Brasil podia finalmente descansar. Nada melhor que voltar ao país onde nascera para passar uma temporada. Já não vinha a Portugal há mais de sete anos e quando recebi o convite para cantar em algumas cidades portuguesas foi só juntar o útil ao agradável. Primeira paragem logo após o aeroporto foi a Praia da Calheta, onde passara tantos verões quando era mais novo. Descalcei os ténis e sentei-me na areia enquanto observava o início do por do sol.

As gravações da série terminaram e decidi aproveitar a minha última semana de anonimato na Madeira com a Carol e a Marta, as minhas melhores amigas. Tinha acabado de ganhar o meu grande papel na televisão, para primeiro trabalho, uma protagonista não era nada mau, a produtora achava que ia ser um enorme sucesso e com isso lá se ia a minha privacidade mas estava decidida a aproveitar esta última semana com as duas pessoas que sempre estiveram lá para mim. Depois de uma noite de festa num dos bares da ilha fui a primeira a acordar, já eram cinco da tarde mas as minhas duas amigas continuavam ferradas e conseguia prever uma enorme ressaca. Depois de vestir uma jardineira com um pequeno top preto por baixo decidi explorar a área ao redor do apartamento que alugámos. Devo ter andado durante horas porque quando avistei a praia já se conseguia ver um suave pôr do sol. “Excelente, a minha parte favorita do dia” pensei. Descalcei os chinelos e enterrei os pés na areia fechando os olhos para aproveitar a sensação. Era uma praia meio vazia talvez por ser meio escondida mas era de uma beleza abismal. Pousei os chinelos na areia e despi tudo o que tinha vestido ficando apenas de biquini, pousando as minhas roupas ao lado dos chinelos. Corri para o mar e mergulhei, a água estava com uma temperatura bastante agradável, então deixei me flutuar, o que foi fácil por não haver ondulação.

Estava apenas a ouvir música e a admirar a paisagem quando a rapariga morena correu para a água à minha frente. Admirava a coragem, depois de tantos anos a viver no Brasil a água das praias portuguesas parecia me sempre gelada. Ri sozinho do meu pensamento e continuei a admirar a rapariga. À distância que estava não conseguia admirar as suas feições mas era intrigante ver mais alguém nesta praia, poucas pessoas a conheciam. Depois de alguns minutos desviei o olhar, não queria parecer um tarado. Apanhei o meu cabelo, prendendo-o com um elástico e deixei me na areia.

Depois de longos minutos na água o meu corpo já sentia a diferença de temperatura. Decidi sair e ao andar para perto de as minhas roupas estavam percebi que não trouxera nada para me secar. “Excelente ideia.” Revirei os olhos e baixei me para pegar as jardineiras e o top. Ao olhar ao redor vi um rapaz a alguns metros. Aproximei-me dele e sentei-me ao seu lado.
-Isto vai parecer estranho mas só por acaso não tens uma toalha ou assim? - perguntei sem o olhar, sabia que podia estar a ser inconveniente, não sabia se ele queria estar sozinho mas já estava a sentir algum frio.

Vi a rapariga morena aproximar-se e ergui a sobrancelha. Não fazia questão de ser abordado por uma fã neste momento. Olhei para ela até que ela perguntou se eu tinha uma toalha. Assim fazia sentido.
- Toalha não tenho mas posso emprestar-te o meu casaco, se quiseres.- peguei no casaco que estava ao meu lado e estendi-lho.

-Aceito.- sorri pegando no casaco e colocando-o à volta das minhas costas.-Obrigada. Maria, já agora. E tu presumo que não sejas de cá.
Continuei a olhar para o mar enquanto brincava com a areia nas minhas mãos.

-De nada, Maria.- sorri ao dizer o nome, combinava com a cara da rapariga.-Salvador. Sal, se preferires. E tecnicamente estás errada, eu nasci cá, os meus pais são madeirenses mas mudámos-nos para o Brasil quando eu tinha três anos e só voltámos cá nas férias - encolhi os ombros. -Tu também não és de cá, eu diria que do continente?

-Interessante! Estudei um ano no Brasil, no Rio. Cresceste onde?- olhei para o rapaz pela primeira vez.-Eu sou do Algarve mas agora estou a viver em Lisboa para trabalhar.

-Sou carioca, vivi a minha vida toda no Rio. Quem sabe se já nos cruzámos antes?! - sorri e comecei a levantar-me. -Está a ficar tarde, eu moro naquela casa ali.-apontei para uma das casa perto da praia. -Se quiseres aparece lá mais tarde, vamos dar um pequeno churrasco e como eu conheço pouca gente por cá convidados são sempre bem vindos.

-Okay Sal. E posso levar amigas?- levantei-me também, começando a vestir as minhas roupas. -O teu casaco.- disse estendendo lhe o mesmo.

-Claro, quanto mais gente melhor.- sorri e comecei a andar para casa. -Está frio, devolves mais logo. Aficada melhor em ti de qualquer maneira.
Subi a duna em direção à minha casa e quando estava prestes a entrar acenei-lhe.

Sorri com o que ele disse e comecei a andar na direção oposta. Tinha a árdua tarefa de acordar as minhas duas amigas mas queria bastante ir ao churrasco e conhecer um pouco mais do português com sotaque carioca.