Terraço no Telhado

Fiz questão de mostrar a Maria todas as divisões da habitação mas deixei a melhor para o final.Depois de subirmos várias escadas finalmente chegámos ao telhado, o meu sítio favorito para ver o pôr do sol. Apesar de já ser noite continuava a ter o seu encanto por ser um espaço muito acolhedor. Sentei-me num sofá e abri uma das cervejas que tínhamos trazido da cozinha e dei-a à morena, depois abri uma para mim também.

-Wow, isto é brutal. Como é que sais daqui sequer?- ri-me e peguei a cerveja que Salvador me entregou, sentando-me ao seu lado e dando um gole na mesma. -Pelo que percebi és bastante conhecido, no entanto para começar esta amizade da maneira certa, acho que devias contar-me algo sobre ti que pouca gente sabe, que não se encontre na internet.

-Eu não sei, mas é sem dúvida o melhor lugar desta casa.- sorri enquanto continuava a beber e a observar a rapariga à minha frente.- Uma das coisas eu já te disse, sou português, e eu acho que só a minha família e os meus amigos sabem isso, acho que nunca ninguém quis investigar muito sobre esse assunto. Quando não tenho compromisso nenhum eu gosto de ler, gosto muito. Assim bem nerd. Também gosto de andar descalço e quando era mais novo queria ser jogador de futebol. O meu cabelo tem teste tamanho agora porque quando tinha 17 anos perdi uma aposta e não podia cortar durante um ano, acho que virou imagem de marca depois disso e o segredo é que nem uso condicionador mas ele é assim, fofo e sedoso. - ri-me.-E tu, menina morena, conta-me algo sobre ti.

-Então eu quero ser atriz desde os 5 anos mas só agora com 23 é que consegui o meu primeiro grande papel. Adoro andar de mota, principalmente se não tiver um destino para ir. Os meus pais são divorciados, foi há dois anos e ainda me custa sempre que penso nisso por isso nunca passo festas de família em Portugal. Tenho 3 irmãos mais novos e sou demasiado protectora em relação a eles. Ter feito kickboxing a vida toda ajuda nessa missão.- pisquei-lhe o olho e acabei a minha cerveja. -Agora explica-me qual é a situação em ser a morena da praia.

-Agora já sei que não me posso meter contigo ou ainda fico com um olho negro.- soltei uma gargalhada e abri outra cerveja para Maria, entregando-lha.-Eu só falei que conheci uma morena na praia.- disse encolhendo os ombros. -Conta-me mais sobre o ano que viveste no Rio.

-Se nunca me chateares não tens de te preocupar.-pisquei-lhe o olho.-Estás a tentar embebedar-me com estas cervejas.- disse rindo-me e comecei a beber a cerveja que Salvador me entregara.-Fui feliz sabes?! Tinha acabado de sair de uma relação complicada e queria focar-me na minha carreira então surgiu a oportunidade e nem pensei duas vezes. Ainda tive duas audições para a Globo e fiquei numa delas mas estava na altura de voltar a Portugal.

-Não tenho intenções de te chatear, não te preocupes.-pisquei-lhe o olho de volta.-Nem estou, só estou a gostar da conversa e abrir outra cerveja é um bom pretexto para não te ires embora.- encolhi os ombros- Percebo mas assim perdeste uma oportunidade de conhecer esta pessoa fantástica mais cedo.

-Olha ele a usar palavras bonitas, só faltava aqui a guitarra.- ri-me e dei-lhe um soco com pouca força no braço.-Também estou a gostar da conversa por isso não faço assim tanta questão de ir embora, não te preocupes. Ir de directa para o aeroporto não deve ser péssimo.- encolhi os ombros e encolhi-me um pouco, estava a começar a ficar fresco.-Conheci agora, é isso que importa!

-És tão má.- soltei uma gargalhada.-Voltas para o continente amanhã?- perguntei e reparei que ela estava a ficar com algum frio. -Com licença.- disse sem pensar muito e pus o meu braço à sua volta puxando-a para mais perto de mim- Acho que tens razão.

-Nem sou. Mas sim volto amanhã de manhã.- disse e observei enquanto ele punha o braço à minha volta.-Não te estás a esticar?- perguntei rindo-me mas aconcheguei-me um pouco mais.

-Podias ficar mais uns dias, ficavas cá e depois ias para Lisboa quando eu fosse.- disse e encostei a minha cabeça à de Maria.-Estou? Não te vi a afastares-me.

-Até podia, mas amanhã tenho uma entrevista e começo as gravações da nova novela.- disse. Estava nervosa para começar o novo projecto.-Se calhar devia afastar-me, não é?- ri-me e mexi-me para me levantar.

-Devia ter vindo para a Madeira mais cedo então.- ri-me e olhei para a rapariga ao meu lado.-Nervosa com o novo projecto?- perguntei fazendo-lhe algumas festas no braço e puxei-a gentilmente de novo para perto de mim quando se ia levantar.-Deixa-te lá estar aqui, assim tens menos frio.

-Podias ficar na minha casa quando estiveres em Lisboa, eu tenho um quarto a mais.- propus sem olhar para Salvador. Não era comum convidar estranhos para a minha casa mas sentia que estávamos a criar um ligação interessante.-Um pouco, principalmente porque vou contracenar com o meu pai.-ri-me quando me puxou e comecei a brincar com os dedos da sua mão que estava à volta do meu ombro.

-Aceito essa ideia, tenho de conhecer melhor a morena da praia. Ela tem qualquer coisa de especial.- soltei uma gargalhada enquanto acabava a cerveja que tinha na minha mão livre.- O teu pai também é actor?- sorri ao sentir a sua mão na minha e movi-a para entrelaçar os nossos dedos.

-Tem?- sorri um pouco corada. -Oh, sim ele é, bem até é um dos maiores de Portugal, daí estar nervosa. Não o quero desiludir...- ia continuar a falar quando fui interrompida.
-Mary, devíamos ir, temos de acordar cedo.- vi as minhas amigas entrarem no terraço e larguei a mão de Salvador.
Revirei os olhos mas concordei, apesar de não querer ir tinha de respeitar a vontade delas, estávamos juntas.
-Vemos-nos em Lisboa então?- perguntei olhando para Salvador enquanto me levantava.

-Tem.- disse sorrindo. Ouvi atentamente o que Maria me disse e quando ia responder, ouvi as suas amigas. A morena largou a minha mão e depois levantou-se.-Claro que sim, voo para lá daqui a cinco dias. Me passa o teu número e vamos falando.- entreguei-lhe o meu telemóvel e reparei que tinha o meu casaco â volta da sua cintura, apontei para o mesmo.-Está frio, veste-o e depois devolves-me.

Sorri, apesar de Salvador conseguir falar com sotaque de Portugal às vezes misturava os dois e era adorável. Peguei no seu telemóvel e marquei o meu número, entregando-o. -Tens a certeza? Pode fazer-te falta.- disse enquanto pegava no casaco que estava à volta da minha cintura.

Guardei o contacto como “Morena” apenas e sorri. -Tenho. Já te disse que fica melhor a ti e eu tenho mais, não te preocupes. Além disso são só cinco dias.

-Okay, okay. Até daqui a cinco dias.- sorri enquanto vestia o casaco. Baixei-me para lhe dar um beijo na bochecha e caminhei para a saída com as minhas amigas, que claramente me iam chatear mais tarde. -Tchau, Salvador.- disse olhando para trás antes de sair. Saímos da casa de Sal e conduzimos até à casa que tínhamos alugado. Enquanto fazíamos as malas as minhas amigas começaram a provocar-me mas decidi não falar muito do assunto. Por mais que confiasse nelas com a minha vida, preferi não dizer nada.

-Tchau morena.- disse alto antes de ver a porta fechar-se. Sorri e acabei por me levantar também e desci para o meu quarto. Ainda havia algumas pessoas na minha casa mas estava cansado e decidi deitar-me.